Thursday, January 31, 2008

De Volta Pro Aconchego

"Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo
Um sorriso sincero, um abraço,
Para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade
Que bom,
Poder tá contigo de novo,
Roçando o teu corpo e beijando você,
Prá mim tu és a estrela mais linda
Seus olhos me prendem, fascinam,
A paz que eu gosto de ter.
É duro, ficar sem você
Vez em quando
Parece que falta um pedaço de mim
Me alegro na hora de regressar
Parece que eu vou mergulhar
Na felicidade sem fim"

Elba Ramalho

Friday, January 11, 2008

Elogio da Loucura

"A morte do escritor Luiz Pacheco não é apenas uma perda para a cultura. Numa altura em que o Governo investe a sério, e com ASAE pela trela, numa fornada de cidadãos enérgicos e atléticos, livres de fumo e bactérias, ainda mais se sentirá a falta da sã loucura dos indomáveis.

Luiz Pacheco fazia parte daquele grupo de criadores – João César Monteiro e Cesariny eram outros - que um Estado decente subsidiaria. A fundo perdido. Para seu próprio bem. A paisagem agradecia e o País melhorava.

Bastava pedir-lhes que fossem como sempre nos habituaram: irreverentes, refractários, subversivos, de manguito carregado e palavras sem dono. Seríamos todos mais felizes e a geração vindoura agradecia. E ainda íamos a tempo de mostrar que, felizmente, ainda há quem tenha um parafuso a menos e um cigarro a mais.

Temo bem que, com andar da carruagem, figuras semelhantes a Luiz Pacheco, César Monteiro e Cesariny tenham cada vez menos lugar numa sociedade estilizada, de ideias poucas, comportamentos light e filosofia Paulo Coelho. Quando muito, o Ministério da Cultura talvez estivesse disponível para criar, para alguns intratáveis, uma reserva «índia», coisa para turista ver. «Não é permitido dar de comer ao Cesariny». «Cuidado, não coloque as mãos na jaula do Luiz Pacheco». Coisas assim. E a vidinha seguia, livre de corantes e conservantes. E outros animais falantes.

Quando um Governo ataca a fumarada com golpes baixos e faz da política um misto de jogging e salto à vara, não se pode esperar dias melhores. Um País com dois milhões de pobres que decide baixar o IVA dos ginásios não regula (o que, de certo modo, já o eleva à condição de um César Monteiro, vá). Os ginásios, esses, continuarão a esfregar as mãos com os propósitos saudáveis do Governo: vão engordar à custa de taxar as nossas gorduras por outras vias, à razão de 10 euros por cada fatia de paio ingerida.

Não adianta sequer resistir às modas e tendências. Portugal tem um não sei quê genético para polícia de costumes e bufaria engravatada. Está-lhe mesmo nos genes e qualquer Salazar dos novos sabe isso.

Não tardará a que uns candidatos a Cesarinys, Monteiros ou Pachecos sejam internados ou fiscalizados antes de rabiscar numa folha branca um desarranjo intelectual. Onde já se viu, dizer e escrever o que lhes vai na telha, os improdutivos?! O País não está para loucuras, senhores. E todos somos necessários nesta grande tarefa de higienizar a cidadania e desinfectar o cenário de parasitas. O Portugal de Sócrates não quer bicho na maçã nem grão na engrenagem. Com um País assim, que pena César Monteiro não estar vivo: pedia-se mais um filme negro com actores em «off». Branca de Neve já temos."

Miguel Carvalho in Visão

Monday, January 07, 2008

Bem-vindo ao ano de 2008

"Bem-vindo ao ano de 2008 e a um país onde o terror passou a ser lei e o Estado democrático e republicano foi substituído por um Estado policial onde a totalidade dos cidadãos assume a condição de vigilantes da lei e da virtude e a totalidade das forças policiais estão mobilizadas para acorrer a todo o lado e reprimir na hora os prevaricadores dos bons costumes. Havia a Arábia Saudita, o Irão e os Estados Unidos. Agora há mais um país oficialmente fundamentalista: Portugal.

Com a entrada em vigor da famigerada Lei 37/07 - a lei antitabagismo -, passa a vigorar entre nós uma lei do terror e o país reencontra-se com a sua velha vocação de proibicionismo, delação e repressão dos direitos individuais. Tudo para perseguir um vício que, note-se, é, todavia, legal e fomentado pelo próprio Estado. O Estado financia, com dinheiros europeus, o cultivo de tabaco; o Estado produz e comercializa cigarros, em regime de quase monopólio, através da empresa pública Tabaqueira; o Estado taxa, de seguida, a venda de cigarros (que ele próprio promove), constituindo essa uma das suas principais fontes de receita. E, no fim do processo, o mesmo Estado, movido pela nobre intenção de defender a saúde pública, decreta que quem fuma deve ser perseguido, denunciado e multado em todo o lado. Qualquer "dealer" de drogas duras tem mais credibilidade moral do que o Estado português. Nem os "dealers" de heroína perseguem os clientes nem o Governo da Arábia Saudita promove a venda de álcool aos fiéis a quem proíbe beber.

Tardámos, mas, nestas coisas do politicamente correcto, quando avançamos é a matar. Sobretudo se tudo o que se exige aos governos é que proíbam e multem. Nenhum país do mundo (excepção feita aos Estados Unidos, em alguns Estados) foi tão longe em matéria de perseguição aos fumadores - mas também se compreende, visto que eles são os maiores produtores mundiais de tabaco e, se o proibissem, levariam à ruína e ao desemprego milhões de agricultores e trabalhadores das tabaqueiras. Neste campo, quanto maior é a culpa maior é a hipocrisia.

Ao abrigo da Lei 37/07, nenhum trabalhador, mesmo que a sós no seu gabinete de trabalho e sem contacto com outros, vai poder fumar; o engenheiro José Sócrates vai ter de ir fumar para os jardins de São Bento, porque lá dentro está num edifício de um órgão de soberania; um velhinho, internado para morrer num lar e cujo derradeiro prazer seja o cigarro, não o vai poder fumar porque chamam a polícia; um preso pode pedir uma seringa nova numa prisão para injectar droga, mas não vai poder fumar, excepto no recreio ao ar livre; em locais como a Feira da Golegã, a Fatacil, a Ovibeja ou a Feira da Ladra, mesmo ao ar livre, não se vai poder fumar, porque são recintos de feira; nas praças de touros não se vai poder fumar, porque são recintos de espectáculos; o faroleiro do Bugio ou o guarda-linha da CP, mesmo na solidão absoluta das suas moradas, não vão poder fumar, porque estão em instalações do Estado; pela mesma razão, nem sequer o embaixador vai poder fumar, nas várias embaixadas de Portugal espalhadas pelo Mundo; não se vai poder fumar nos quartéis, nos navios da Armada, nas estações e gares de comboios e barcos, nos aeroportos, em todos os ministérios e repartições públicas, nos hospitais e centros de saúde, nas Pousadas de Portugal e em todos os hotéis que o decidam, em todos os espectáculos, excepto nas zonas ao ar livre dos estádios de futebol (à excepção do camarote presidencial do Benfica e do FC Porto). Mas, resumindo: como não se pode fumar em nenhum local de trabalho nem de atendimento ao público, as quarenta e tal proibições da Lei 37/07 tornam-se inúteis e, com um legislador menos incapaz, ter-se-iam reduzido a uma simples formulação: é proibido fumar em todo o lado, excepto ao ar livre e dentro do transporte individual ou da casa de cada um. Ressalvando, todavia, que, mesmo ao ar livre, há casos de proibição na lei e que, mesmo em casa de cada um, nada exclui que, tal como previsto na lei, "por determinação da gerência" do condomínio, se possa proibir o fumo em todo o prédio.

Só alguém com sérios problemas mentais poderia ter feito esta lei. E só uma Assembleia de deputados incompetentes e sem coragem nem vontade própria a poderia ter aprovado. É uma lei à medida de um país de polícias e de eunucos. Chamada a resolver uma situação em que se tratava de proteger os não-fumadores do fumo passivo, obrigando à criação de áreas específicas para fumadores, o legislador não esteve com meias medidas e quis lá saber se os fumadores tinham ou não alguns direitos também. A regra foi proibir quase sempre e em todo o lado e, quando misericordiosamente entreabriu algumas portas (como no caso dos bares e restaurantes), determinou tamanhas exigências técnicas que a tradicional lei do menor esforço e a falta de profissionalismo em vigor no sector se encarregaram de chegar à solução mais fácil: que vão fumar para a rua e é enquanto podem.

Já andam para aí alguns zelotas preocupados em que a lei possa não ser cumprida em todo o seu rigor. E alguns descendentes mentais dos antigos 'bufos' da PIDE já se encarregaram de telefonar à polícia a denunciar fumadores. E a polícia lá acorreu, pressurosa, para reprimir à nascença a difusão deste odioso crime - que é o único não previsto no Código Penal e fomentado pelo Estado.

E lá, do seu pedestal onde figura como Torquemada ou Elliot Ness da Reboleira, de crachá pendente do cinto das calças e ar ameaçador (vide revista 'Tabu' do último sábado), já afia o dente António Nunes, o presidente dessa nova polícia chamada ASAE, cujos agentes se apresentam de camuflado negro e em estilo de brigada antiterrorista para inspeccionar restaurantes e cafés do país e agora mobilizada para o combate a este novo crime.

A lei, aliás, parece feita de encomenda para o senhor da ASAE. O homem que promete acabar de vez com as bolas de Berlim nas praias, os pastéis de bacalhau nas tascas e os doces de fabrico caseiro nos cafés, que jura guerra às colheres de pau nas cozinhas e que promove um mundo totalmente plastificado - colheres, copos, luvas, embalagens para tudo - e que suspira filosoficamente que a "dura lex, sed lex" o vai obrigar a fechar metade dos restaurantes do país, não podia ser mais adequado a esta nobre tarefa de perseguir os fumadores em todas as feiras, chafaricas e recantos do país profundo. (Na Irlanda - esse país que ainda há poucos anos perseguia os 'infiéis' não-católicos como emissários do demónio -, a perseguição aos fumadores desencadeada pela ASAE local levou já ao fecho de 11 mil "pubs" de província, de acordo com o lema "acabamos com os fumadores nem que tenhamos de acabar com a vida no interior!") Um bom exemplo para Portugal.

Sosseguem, pois, os "ayatollahs" de serviço por aqui: temos a ASAE e o seu exército de camisas negras com as narinas devidamente treinadas para cheirar qualquer resquício de fumo a léguas de distância. E temos os eternos 'bufos' disponíveis para denunciar nem que seja o velhote que há anos se senta na mesma mesa da tasca do bairro para jogar dominó com os amigos e acender um cigarro para queimar o frio e a tristeza. A tristeza por viver num país onde se respeita tão pouco a liberdade dos outros."

Miguel Sousa Tavares in Expresso

Tuesday, January 01, 2008

baixinho

Shuuuuu...não fales. Está a chover! Vamos ficar assim aqui, quietinhos.
vamos apreciar este momento, vamos gozá-lo, com calma, muita calma. Como se estivessemos parados no tempo. No nosso tempo.
O teu silêncio acalma-me, o teu sorriso dá-me vontade de viver, o teu toque faz-me sentir mulher, as tuas palavras despertam o que há muito estava esquecido.

Shuuu...

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